Minhas Artes

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Desmanchando os Dramas

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

As fibras


Dicas de como cuidar de suas peças em tricô:

1. Início
2. Um pouco da História da Indústria Têxtil
3. História do tricô e do tricô irlandês
4. Os tecidos
5. Os fios
6. As fibras
7. Lavagem á úmido 
8. Limpeza à seco
9. Cuidados especiais


Para entender os fios precisamos partir de sua matéria-prima, que podem ser fibras naturais ou químicas. Elas são diferentes em todos os sentidos.

As fibras naturais são de origem orgânica:
  
1.Vegetais: ex: cânhamo, algodão, linho,juta, sisal, etc. Note que estas fibras possuen ranhuras, porque são formadas de microfibrilas (parecida como a micrografia da morfologia interna do sisal), ou escamas que protegem uma cutícula. Esta característica lhes dá porosidade e fragilidade.

 
Fonto micrográfica de uma fibra de algodão. Microfibrilas muito unidas, torção natural.


Fotos micrográfias de uma fibra de sisal. Pequenas microfibrilas muito unidas formando escamas.
Foto de fios de juta.

2.Animais: pêlos de animais, que resultam em diversos tipos de lãs, a seda, etc. Choquei quando li que a seda da teia de aranha também é usada! Esta fibra é uma das matérias-primas usadas para a confecção de uma fibra sintética muito resistente, leve, e bem resistente, a kevlar, que é usada no fabrico de , raquetes de tênis, coletes e capacetes anti-balas. Bem resistente, não?


Foto micrográfica de uma fibra natural: lã.

Foto micrográfica de fibra natural: seda.

3.Minerais: Somente o amianto, que é uma fibra utilizada para roupas contra fogo, muito usado por bombeiros. No entanto, algumas fontes informam que está sendo proibida porque seu beneficiamento é tóxico.

Fibra de amianto.

As fibras químicas, surgiram após Revolução Industial e podem ser:

1.Artificiais: que são aquelas que partem de uma matéria-prima natural e são transformados pelo homem. Surgiram  daquela necessidade de (re)aproveitamento dos rejeitos da indústria. Por exemplo: o línter do algodão, filamentos muito finos junto a casca do fruto do algodoeiro, não aproveitados para a fiação do algodão. São subdivididas em fibras celulósicas, de origem vegetal, que são, por exemplo, a viscose e os acetatos; e as fibras proteínicas, de origem animal, onde o nylon é o maior exemplo.

Fibra de viscose.

Foto micrográfica da fibra artificial: nylon.

2.Sintéticas: são aqueles que se produz a partir de produtos químicos da indústria petroquímica. Ex: lycra, poliéster, poliamida, acrilan, elastano, etc. A tecnologia têxtil avança cada vez mais produzindo fios inteligentes e específicos para um determinado uso, como é o caso dos tecidos utilizados para os esportes.

Foto micrográfica de uma fibra sintética: tactel.
Fibras biomiméticas: funcionam como músculos.

E existem ainda as fibras inorgânicas:
Os exemplos mais comuns são a fibra cerâmica, de carbono, de vidro, a lã de escória e a fibras metálicas.

Fibra de vidro.

E, estes são apenas alguns exemplos...Os tecidos e os fios podem ser compostos de fibras da mesma origem ou serem mistos, numa combinação determinada por preferências, moda, conforto, uso, etc.
Depois de tudo isto, preciso me exibir (risos), quando eu fiz o poema ao lado eu estava completamente certa: o tricô é muito mais que fios entrelaçados, é um documento de um tempo, nosso tempo (nossos pensamentos, nossas formas de tricotar, de costurar, etc.), mas também do lugar e tempo em que vivemos (a matéria prima, seu modo de produção, costumes). Pensa bem: tu escolhes o que tu queres usar ( teu gosto, a moda da época, sexo, etc.) , e no uso, tu também deixa tuas impressões ali (teu cheiro, teu suor, tuas células, o formato do teu corpo, os cuidados). Isto é, quando no futuro estudarem nossas roupas, elas explicarão o costume desta época, podendo até definir, sob alguns aspectos, quem as usou.
Mas, vamos complicar um pouquinho mais... as informações do rótulo dos fios que compramos nem sempre são completas ou verdadeiras e, a olho nu, não podemos identificar se são verdades ou não. Recentemente tive a comprovação que nossas indústrias omitem as verdadeiras composições dos fios que compramos. Os trabalhos em lã (poncho, jaqueta, casacão, etc.) que expus aqui no blog, no rótulo do novelo dizia “lã pura-100%”, mas dentro do laboratório da faculdade fizemos o simples teste de queima do fio, com supervisão de um professor, e concluiu-se que era na verdade uma lã mista. Simples dedução: se após á queima o cheiro for de cabelo queimado, houver demora para queimar, com resto de cinzas, é lã pura; se tiver cheiro tiver plástico junto, a queima for mais rápida, e formar uma bolinha preta, lã mista (depentende da quantidade do percentual de pureza); se o fio queimar muito rápido, formar uma bolinha e depois pingar como plástico derretido, e cheiro de mesma característica, é um fio artificial ou sintético. Da mesma forma as linhas de verão, ok? E não vou dizer “não faça isso em casa” (risos) porque não explode, e para um adulto é simples.
Neste estudo outras questões foram levantadas, como por exemplo, a comparação das reações das fibras naturais rústicas com das industriais em relação a durabilidade, de onde se pode concluir que as primeiras são mais duráveis a longo prazo. Porquê? Porque são menos porosas (as microfibrilas estão muito unidas) que aquelas que receberam aditivos químicos.
Observe  as escamas que existem na lã, os produtos químicos, como sabões e detergentes, penetram ali e depois reagem com a composição química da fibra. As fibras do algodão são bem longas, bem unidas,  por isto são mais resistentes. Apesar disso, as microfibrilas podem se soltar com lavagens constantes, onde a porosidade da fibra vai aumentar e deixar exposta as camadas internas. Já as fibras sintéticas não tem escamas ou poros, elas são microtubinhos.  Veja as fotos:

Foto micrográfica de uma fibra mista: lã mista. Fibra sintética e de lã natural.

Foto micrográfica de um corte trasversal de fibras artificiais: thermastat. Sintéticos e artificiais são tubinhos.

O fato de que as fibras sintéticas e artificiais não possuírem porosidade não quer dizer que não não de degradem quimicamente. Elas são formadas por compostos retirados do petróleo que reagem rapidamente com a poluição do ar. Os aditivos químicos, pó, micro partículas orgânicas e microorganismos aderem à parede da fibra ou por entre as várias fibras, afetam a estabilidade do fio, inciando reações em cadeia que terminarão por degradar a matéria. E é a umidade desencadeia essas reações químicas e, tanto faz ser a umidade do ar ou da lavagem, o fim, a longo tempo será o mesmo.
E tem mais: sei que é nojento pensar nisso, mas há células humanas misturadas nos fios. Se o beneficiamento do fio for manual, há células de estranhos; na tecelagem do tricô, manual ou de maquinário, deixamos nossas células; nos abraços, células de nossos amores. Não há como evitar isto e, ...sinto dizer, ácaros comem células, podem romper algumas fibrinhas do fio, ou o seu excremento vai reagir com a matéria, podendo formar fungos.

Foto micrográfica de um ácaro.

Todos os microorganismos adoram cabelos, migalhas de comida, pó... Eca! Tá, péra ai...não vais colocar fora seus blusões...risos...
Além disto, o envelhecimento de qualquer fibra, fio ou tecido (e qualquer objeto) deve ser entendido também como a ação do tempo (temperatura e época) e incidência da luz. Se as fibras dos fios que usamos para cofeccionar nossas peças são fruto de nossa era, e por isso são frágeis e, ainda por cima sofrem lavagens contínuas, secagem ao sol, são passadas, tem uso descuidado, é claro que nossos casacões terão menor durabilidade. Isso favoresce a degradação química, o ataque de microorganismos e insetos, que adoram comer o que está fragilizado.
E, se não se pode evitar esta degradação química, a menos que  coloquemos nossos casacões em molduras (muito esterilizadas!), podemos fazer esforços para minimizar danos, não é?

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