Minhas Artes

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Amo gatos!

Desmanchando os Dramas

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Os tecidos


Dicas de como cuidar de suas peças em tricô:

1. Início
2. Um pouco da História da Indústria Têxtil
3. História do tricô e do tricô irlandês
4. Os tecidos
5. Os fios
6. As fibras
7. Lavagem à úmido 
8. Limpeza à seco
9. Cuidados especiais





Os livros conceituam os tecidos como o resultado de um processo que parte de uma fibra  natural, sintética ou artificial, passam por  tecelagem manual (com ou sem instrumentos) ou de maquinário, resultando  numa estrutura plana e contínua. Ok?  Já te falei que também são têxteis as plumas, as penas e os couros, não é? Este conceito também deixa de lado os tecidos tubulares, que não são contínuos, e o "nosso" tricô manual, que é feito sob medida. Além disto, os têxteis não são só tramados, eles podem também ser prensados. São bons exemplos de tecidos prensados: a cortiça, o feltro e os tecidos não-tecidos (TNT). Estas compreensões também vão influenciar na resistência à lavagem dos tecidos. Tecidos tubulares, por exemplo, na secagem horizontal, formarão camada dupla e demorarão mais para secar. Já os tecidos prensados, na lavagem descuidada, podem perder algumas fibras porque sua união pode ser prejudicada.
Os tecidos tramados devem ser olhados no modo e na frequência do entrelaçamento dos fios. Algumas  tramas industriais resultam em desenhos e relevos diferentes que originam  as estruturas chamadas de tafetá, sarja e cetim. A partir destas três padronagens fundamentais, e conforme as fibras utilizadas, os tecidos se disferenciam em lisos, rugosos, felpudos, grossos, finos, porosas ou não, etc. Quando vamos a uma loja de tecidos na verdade escolhemos a trama, pois elas denominam a peça. Ex:  a malha, o brim, veludo, camurça, cambraia, feltro, etc., etc., etc.  (Para mim isso foi uma surpresa encantadora dentro dos estudos da conservação dos têxteis!).
Como toda a matéria, os tecidos possuem características físicas, determinadas por sua matéria-prima e seu modo de produção. Explico: o beneficiamento da fibra e o acabamento quase sempre utilizam aditivos químicos (para lavar, alvejar, tingir, etc.), que somam vantagens e desvantagens ao produto final. Um exemplo disso é a mercerização do algodão,que nada mais é que é um banho de soda caústica para conferir mais resistência e lustro às fibras. Os tecidos estampados, são outro exemplo, pois saem da tecelagem  com uma cor cinzenta e ásperos, passam por lavagem, para retirar as impurezas e suavizar, por alvejamento para branquear, posteriormente são tingidos na cor de fundo e têm impressos desenhos. Tudo isto são produtos químicos que influenciarão na permanência do tecido, porque eles penetram e reagem com as fibras e, então, lá dentro, bem lá dentro, se inicia reações em cadeia de degradação. Isso comprova que a industrialização, apesar de ter agilizado e possibilitado o surgimento de infinitos tecidos, nos trouxe a desvantagem da fragilidade do produto final.


Tecidos tem diferentes padronagens.

Porém, o processo manual de beneficiamento das fibras naturais e a produção artesanal de têxteis não está livre da degradação pelos mesmos motivos, e outros mais. Mesmo sendo resultado de beneficiamento rústico as fibras originais são alteradas, pois são lavadas, penteadas, soltas umas das outras, etc. O tricô, mesmo aqueles feitos à máquina, resulta em malhas extremamente porosas, pois cada cada ponto é bem visível, e, assim, se tornam frágeis. Comparando tricô à máquina com o manual com agulhas, o primeiro é mais resistente, pois as tensões são mais constantes; o tricô de dedo é a técnica menos resistente de todas porque as tensões são muito variáveis.  Dentro destas técnicas, as infinitas combinações de pontos formam também padronagens: lisas (ponto meia ou o seu avesso, ponto tricô), trançados, jacquards, rendados, irlandês, etc. Cada uma dessas padronagens possuem também diferentes tensões, por isso é melhor respeitar as agulhas que o rótulo indica. O fator humano, no tricô manual, faz com que as tensões variem dependo da motricidade fina e da disposição (não é verdade que lá no final do tricô o ponto é diferente?). Então, as malhas manuais perdem um pouco em uniformidade e, por conseguinte, em durabilidade. Quanto mais frouxo é o ponto, mais tensões distintas ele vai sofrer em diversos lugares da malha; quanto mais apertado é o ponto, a tensão vai ser uniforme e contínua, mas haverá fricção entre os fios e entre as fibras, que ao longo do tempo, poderão rebentar. O fio, agulhas e tensão adequados melhoram a aparência e a permanência da peça.
Se conclui, então, que os tecidos, manuais ou industriais, estão fadados ao envelhecimento, por características que não podem ser evitadas? Não, não podem. Vamos parar de fazer tricô por isso? Não, não vamos. O que se faz então? Se preserva, porque este envelhecimento natural pode ser retardado, com cuidados especiais.Tinhas pensado nisso? Eu não tinha. Sabe porquê? Por que eu sou nascida num tempo que as coisas são cada vez mais descartáveis.

Foto aproximada de uma malha industrial. Entre os pontos: as tensões uniformes do fio.

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